LIVRO DE MALAQUIAS COMENTADO

                                                              O LIVRO DE MALAQUIAS

 

                                                UM PROFETA DA RESTAURAÇÃO

 

                                                                           POR

 

                                                    RIOLANDO CARLOS DE BARROS

 

 Há grande discussão em torno do nome do profeta, se Malaquias é o seu verdadeiro nome, que no Hebraico significa “meu mensageiro” ou se esta é uma expressão designativa da sua função de transmitir ao povo a sentença do Senhor (cp 1:1 e 3:1).

Tal discussão não é tão importante, se considerarmos que o pronunciamento tem origem em Deus, e foi entregue ao profeta para ser repassada ao povo. Observe-se ainda que os profetas anteriores sempre se identificaram pelos seus próprios nomes. Se não for este o caso de Malaquias, é a única exceção entre os profetas do Velho Testamento. Mas se for um nome próprio, deve ser interpretado como uma forma a abreviada de “malakyah”, que significa mensageiro de “Yahaweh”.

Nada se conhece desse mensageiro de Deus, a não ser pelas afirmações extraídas de suas declarações. O livro não traz o nome de seu pai e nem o seu local de nascimento.

Quanto a data em que o livro foi escrito, o que se pode afirmar é que a quantidade de evidencias é insuficiente para se chegar a uma conclusão definitiva. Evidências externas são escassas. Evidências internas são sujeitas a inúmeras interpretações e muitas possibilidades já foram propostas, variando desde épocas anteriores a Ageu e Zacarias (último quarto do século VI A.C.) até o período grego (último quarto do século A.C.).

Entretanto, é reconhecido universalmente que estas profecias foram trazidas após o exílio da Babilônia e os judeus eram governados por um Governador (1:8) que os Edomitas haviam sido lançados fora da sua terra (1:2ss), o Templo já tinha sido reconstruído, o sistema sacrificial e os serviços sacerdotais já tinham sido restaurados, o sistema sacrificial e os serviços sacerdotais faziam parte da vida do povo e até mesmo o povo havia-se tornado negligente e os sacerdotes, corruptos (1:6-14).

 Nehemias e as reformas que Malaquias reivindicava, somadas a outras evidências, é possível concluir que o profeta escreveu o livro que leva o seu nome, entre os anos 465 e 425 A.C.

 

                                                  COMENTÁRIO NO TEXTO

                                     O AMOR DO SENHOR POR JACÓ (1:1-5)

 

V.1 - Sentença pronunciada pelo SENHOR contra Israel, por intermédio de Malaquias.

V.2 - Eu vos tenho amado, diz o SENHOR; mas vós dizeis: Em que nos tens amado?

         Não foi Esaú irmão de Jacó? – disse o SENHOR; todavia, amei a Jacó,

 V.3 - porém aborreci a Esaú; e fiz dos seus montes uma assolação e dei a sua   

         herança aos chacais do deserto.

V.4 - Se Edom diz: Fomos destruídos, porém tornaremos a edificar as ruínas, então,

         diz o SENHOR dos Exércitos: Eles edificarão, mas eu destruirei; e Edom será

         chamado Terra-De-Perversidade e Povo-Contra-Quem-O-SENHOR-Está-Irado-

         para-Sempre.

V.5 - Os vossos olhos o verão, e vós direis: Grande é o SENHOR também fora dos

         limites de Israel.

 

Os versos 2-5 mostram o modo de argumentação de Malaquias no estilo de repreensão que caracteriza o livro como um dos questionamentos mais sérios das profecias do Velho Testamento.

O V.1 informa, sem rodeios que a sentença vem diretamente de Jeová, por intermédio do Seu mensageiro Malaquias, visto que esta introdução anuncia uma sentença contra Israel. Era de se esperar que a mensagem continuasse com uma severa repreensão contra o pecado do povo. No entanto este oráculo reverte inesperadamente o teor da mensagem, passando para uma palavra branda e contristada do Senhor, expondo diante dos ouvintes o Seu amor imutável, a fonte e o motivo das promessas e dos atos de Deus, através da história da nação.

A declaração divina no V.2 (eu vos tenho amado) tem significado de amor permanente: “e ainda vos amo”. Isto deve levar o povo a uma resposta positiva e consciente de amor a Deus, guardando os Seus mandamentos (cf João 14:15). Isto leva o profeta a exteriorizar desilusão e ceticismo existente nos corações daqueles israelitas de seus dias, sentimentos que o profeta quer tratar, porque se opõem à verdadeira intenção e natureza de Deus.

O primeiro questionamento levantado é a pergunta do povo: “Em que nos tem amado (o Senhor)?” Eles punham em dúvida o amor de Deus, porque não o reconheciam, numa atitude de falsidade, de impiedade, de ingratidão de uma nação sem esperança. Esta questão desafia o profeta para uma séria prestação de contas a esse respeito. É como se eles dissessem que não viam evidências desse amor em meio a tanto sofrimento, e queriam uma demonstração concreta. A resposta do profeta foi imediata e direta.

A argumentação ditada pelo Senhor ao profeta está nos Vs.2c-5. Ele mostra, através da história, que amou Jacó (Israel) e rejeitou Esaú (Edom) e ainda ama Jacó que, apesar de ter ido temporariamente para o exílio, retornou, enquanto Edom foi definitivamente desalojado de suas fortalezas das montanhas, para não retornarem nunca mais.

Por mais similar que possa parecer, esta passagem não trata de predestinação de nação, e nem de indivíduos, mas fala do envolvimento de Israel no plano de Deus de estabelecimento do Reino Messiânico para dar oportunidade de salvação a todos os povos e a todos os indivíduos. Para isto a nação de Israel foi criada (Gênesis 12:2-3) e escolhida (Êxodo 19:5-6, Deuteronômio 7:6, cp I Pedro 2:9). A ideia central é o propósito soberano de Deus, de estabelecer o Seu Reino Eterno, incluindo indivíduos de todas as nações (Apocalipse 7:9-17; cp Zacarias 8:20-23). Portanto, não se trata de injustiça, nem de discriminação do Criador, antes foi a medida tomada para restaurar à Sua Glória o homem que se afastou d’Ele por causa do pecado (cf Romanos 3:23-30; I Timóteo 2:4; II Pedro 3:9; cp Romanos 11:25-33).

Analisando bem o caso de Esaú, concluímos que o profeta não afirma que ele e sua nação não foram rejeitados por Deus de maneira absoluta, e nem que Deus devotou amor absoluto concernente a Jacó (cf Gênesis 27:38-40; II Crônicas 21:8-10). Esta conclusão aplica-se a todas as nações. Os Edomitas, chamados Idomeus pelos gregos e romanos, ainda viviam no sul da Judéia, e foram assimilados aos judeus, quando subjugados por João Hircano em 126 A.C. o qual os impeliu a se circuncidarem. Então Antipater foi nomeado governador daquele povo e veio a ser avô de Herodes, o grande, cujos descendentes tiveram grande participação na política da Judéia e parte da Palestina, até o final do século I D.C.

 No longo trecho que se segue (1:6-4:3), o profeta indicia mais severamente os sacerdotes do que o povo, embora ambos fossem culpados do descaso do serviço sagrado, isto porque a classe sacerdotal estava na obrigação de servir fielmente a Deus, tornando-se especialmente culpada por não dar o exemplo para o povo. Por esta falha de não corresponder ao seu glorioso e elevado ofício, os seus compatriotas do povo foram levados a desencaminhar-se para um círculo vicioso de hipocrisia e ritualismo vazio

 

                                      PECADOS DO SACERDÓCIO (1:6-2:9)

 

O trecho que segue é de repreensão aos sacerdotes pela negligência e indiferença em seus deveres, e pela deficiência no verdadeiro serviço sacerdotal.

 

                                       O Senhor reprova os sacerdotes (1:6-14)

 

V.6 - O filho honra o pai, e o servo, ao seu senhor. Se eu sou pai, onde está a minha

         honra? E, se eu sou senhor, onde está o respeito para comigo? – diz o SENHOR

         dos Exércitos a vós outros, ó sacerdotes que desprezais o meu nome. Vós

         dizeis: Em que desprezamos nós o teu nome?

V.7 - Ofereceis sobre o meu altar pão imundo e ainda perguntais: Em que te havemos

         profanado? Nisto, que pensais: A mesa do SENHOR é desprezível.

V.8 - Quando trazeis animal cego para o sacrificardes, não é isso mal? E, quando

         trazeis o coxo ou o enfermo, não é isso mal? Ora, apresenta-o ao teu

         governador; acaso, terá ele agrado em ti e te será favorável? – diz o SENHOR

         dos Exércitos.

V.9 - Agora, pois, suplicai o favor de Deus, que nos conceda a sua graça; mas, com

         tais ofertas nas vossas mãos, aceitará ele a vossa pessoa? – diz o SENHOR dos  

         Exércitos.

 V.10 - Tomara houvesse entre vós quem feche as portas, para que não acendêsseis,

            debalde, o fogo do meu altar. Eu não tenho prazer em vós, diz o SENHOR dos

            Exércitos, nem aceitarei da vossa mão a oferta.

V.11 - Mas, desde o nascente do sol até ao poente, é grande entre as nações o meu

            nome; e em todo lugar lhe é queimado incenso e trazidas ofertas puras,                

            porque o meu nome é grande entre as nações, diz o SENHOR dos Exércitos.

V.12 - Mas vós o profanais, quando dizeis: A mesa do SENHOR é imunda, e o que

            nela se oferece, isto é, a sua comida, é desprezível.

V.13 - E dizeis ainda: Que canseira! E me desprezais, diz o SENHOR dos Exércitos;

           vós ofereceis o dilacerado, e o coxo, e o enfermo; assim fazeis a oferta.

           Aceitaria eu isso da vossa mão? – diz o SENHOR.

V.14 - Pois maldito seja o enganador, que, tendo um animal sadio no seu rebanho,

           promete e oferece ao SENHOR um defeituoso; porque eu sou grande Rei, diz

           o SENHOR dos Exércitos, o meu nome é terrível entre as nações.

 

O profeta inicia este oráculo com dois princípios de inegável valor, porque são de ampla aceitação. São duas imagens familiares que refletem o relacionamento de Deus com o Seu povo (Deuteronômio 14:1; Levítico 25:55). Era fato confirmado que nenhum israelita podia negar que eles eram filhos de Deus e servos do Senhor e, portanto, deviam honrá-lO como Pai e respeitá-lO como seu dono. O mandamento é exemplo disso (Êxodo 20:12).

Sem dúvida nenhuma, os sacerdotes se opunham a essas duas ideias, ostentando que Deus era Pai e Senhor e sempre esperavam bênçãos de Suas mãos. Mas Deus estava exigindo que eles mostrassem sinceridade em suas reivindicações, tratando-O da maneira como eles o encaravam. Deixando de relacionar a profissão com a prática, eles se caracterizavam como aqueles que “desprezavam o nome do Senhor”. Pela indiferença e irreverência com que eles conduziam o ministério que deviam honrar, eles haviam acumulado desonra ao nome do Senhor. Estes homens que, entre todos em Israel deviam preservar a honra do nome do Senhor, são acusados de desprezá-lO. Esse nome, para o povo hebreu não era um simples apelativo, mas era algo que identificava o caráter e a pessoa do Indivíduo. Desprezá-lO era desprezar o próprio Deus Jeová.

A pergunta levantada pelos sacerdotes no final do V.6 mostra que os sacerdotes não davam a devida importância à mesa do Senhor, isto é, à mesa dos sacrifícios. O V.8 explica que o Senhor não aceita sacrifícios de animais enfermos ou defeituosos de qualquer espécie (Levítico 22:18-25; Deuteronômio 15:21). Este verso sugere ainda, por palavra do Senhor, que, se tais sacrifícios fossem oferecidos ao “governador” em exercício, ele rejeitaria tanto a oferta quanto o ofertante. O uso da palavra “governador” indica que esta prática ocorria no tempo do governador Persa em que Malaquias exercia o seu ministério profético (cf Ageu 1:1; Nêemias 5:14). O título “Senhor dos Exércitos” usado tantas vezes em seu livro pelo profeta Malaquias, põe em evidência a suprema autoridade do Senhor, em comparação com a autoridade do Governador da Pérsia.

O V.9 abre a possibilidade de Deus conceder a Sua graça à nação, mas isto só será possível mediante a súplica e a mudança de atitude da adoração, para que a nação fosse aceita pessoalmente por Deus. Caso contrário (V.10), seria melhor que alguém fechasse a porta de acesso do altar dos sacrifícios, pois da maneira como estes estavam sendo oferecidos, eles não agradavam a Deus, que não os aceitaria como oferta daquelas mãos.

O V.11 é uma alusão ao Reino Messiânico e uma exortação para que a nação se prepare para o tipo de adoração exigida pelo Senhor dos Exércitos. Os Vs.12-14 advertem que a mesa do Senhor estava sendo considerada imunda porque, nela se oferecia comida desprezível tais como animais roubados (muxoxos), enfermos, dilacerados por feras e defeituosos de todo tipo. Isso é inaceitável ao Senhor dos Exércitos, porque Ele é o Grande Rei, terrível entre as nações, e responderá com maldição a todo que se fizer passar por enganador.

 

              O CASTIGO PELA DESOBEDIÊNCIA DOS SACERDOTES (2:1-9)

 

V.1 - Agora, ó sacerdotes, para vós outros é este mandamento.

V.2 - Se o não ouvirdes e se não propuserdes no vosso coração dar honra ao meu

        nome, diz o SENHOR dos Exércitos, enviarei sobre vós a maldição e

        amaldiçoarei as vossas bênçãos; já as tenho amaldiçoado, porque vós não

        propondes isso no coração.

V.3 - Eis que vos reprovarei a descendência, atirarei excremento ao vosso rosto,

        excremento dos vossos sacrifícios, e para junto deste sereis levados.

V.4 - Então, sabereis que eu vos enviei este mandamento, para que a minha aliança

        continue com Levi, diz o SENHOR dos Exércitos.

V.5 - Minha aliança com ele foi de vida e de paz; ambas lhe dei eu para que me

        temesse; com efeito, ele me temeu e tremeu por causa do meu nome.

 

No parágrafo precedente 1:6-14, o profeta transmite oráculos do Senhor, acusando os sacerdotes de negligência e indiferença no desempenho de certos aspectos do serviço sacerdotal. Agora, ele traz uma acusação mais séria, a saber, negligência dos seus deveres intelectuais, no sentido de instruções ao povo. O profeta apresenta um flagrante contraste entre o indigno proceder dos atuais ministrantes do Templo e dos seus dignos predecessores representados por Levi (V.4).

A severidade da acusação contra os presentes sacerdotes é indicada pelas palavras iniciais do V.1 deste capítulo, e pelas duas exortações dos Vs.2 e 3. A irreverência tinha chegado a tal ponto que eles são ameaçados de maldição, se não tomarem a decisão íntima de honrarem o Nome do Senhor. As bênçãos que eles pronunciassem sobre o povo seriam amaldiçoadas, e tudo o que eles recebessem como oferta do altar para eles e seus filhos seria amaldiçoado (Deuteronômio 18:8ss). Aliás, isso já estava acontecendo porque eles não propunham honrar o Senhor em seus corações (V.22b).

O V.3 mostra que o Senhor dos Exércitos estabeleceu um clima de guerra contra aquele tipo de sacerdócio, para exterminá-lo, e para dar continuidade à aliança de vida e de paz feita com Levi, o verdadeiro sacerdócio (Números 3:10-13; 25:11-13). O presente sacerdócio era rejeitado por Deus, como se fosse contaminado pelas fezes dos animais sacrificados, o que os tornava inaceitáveis. Este é o significado do V.3. Mas o sacerdócio original de Levi foi de temor e tremor em respeito ao nome do Senhor.

Todavia a restauração do sacerdócio só acontecerá através do Renovo, que reinará como Rei e Sacerdote até a restauração de todas as cousas (Zacarias 6:13; Atos 3:20-23).

 

V.6 - A verdadeira instrução esteve na sua boca, e a injustiça não se achou nos seus

         lábios; andou comigo em paz e em retidão e da iniqüidade apartou a muitos.

V.7 - Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca

         devem os homens procurar a instrução, porque ele é mensageiro do SENHOR

         dos Exércitos.

V.8 - Mas vós vos tendes desviado do caminho e, por vossa instrução, tendes feito

         tropeçar a muitos; violastes a aliança de Levi, diz o SENHOR dos Exércitos.

V.9 - Por isso, também eu vos fiz desprezíveis e indignos diante de todo o povo,

         visto que não guardastes os meus caminhos e vos mostrastes parciais no

         aplicardes a lei

 

Continuando a referir-se à fidelidade do Sacerdócio Levítico, o V.6 fala da verdadeira instrução que estava na sua boca, isto é, das decisões corretas, explícitas, bem explicadas do sacerdote, que implicava na sua integridade para com Deus. Ao contrário da prática dos presentes sacerdotes, de negociar julgamentos na corte sacerdotal, nos Sacerdotes Levitas “não se achou injustiça nos seus lábios”, repassando ao povo oráculos dos Senhor tal como eles os recebiam, fazendo justiça ao oprimido e punindo o opressor. Assim (Levi) “andou comigo em paz e em retidão e da indignidade apartou a muitos”. Por isso ele estava apto a proceder corretamente.

O oráculo do Senhor dos Exércitos continua no V.7, falando do dever dos sacerdotes guardarem o conhecimento. Mas não se trata apenas do conhecimento intelectual, e sim, da aplicação dele na vida, que é a “sabedoria”, a maior de todas as virtudes dos filhos de Deus (Oséias 4:1,6; 6:6; cp Salmo 111:10).

Sacerdotes e profetas são mensageiros de Deus, que têm a responsabilidade de levar aos homens o conhecimento de Deus e de Suas Leis (Êxodo 19:5-6; I Pedro 1:9; I Coríntios 14:3; Apocalipse 5b-6).

O V.7 esclarece que as palavras do sacerdote devem ser o manancial de conhecimento, de onde os homens devem buscar o ensino, pois o sacerdote é mensageiro de Deus para dirigir o povo pelo caminho certo. O V.8 esclarece que, quando o sacerdote se afasta do caminho, ele não tem condição de instruir o povo segundo a verdade, levando muitos a se desencaminharem. Veja contraste com o V.6. Isto constitui uma violação ou traição à Aliança de Levi, isto é, do sacerdócio cujo compromisso é viver e conduzir o povo no temor do Senhor (Vs.5,6).

Por todas essas perversões do presente sacerdócio que quebrou a Aliança com o verdadeiro Sacerdócio Levítico, o Senhor dá a retribuição, tornando-o desacreditado diante do povo (cp Miquéias 3:11), conforme afirma o V.9.

 

        ADVERTÊNCIA CONTRA A INFIDELIDADE CONJUGAL (2:10-16)

 

V.10 - Não temos nós todos o mesmo Pai? Não nos criou o mesmo Deus? Por que

          seremos desleais uns para com os outros, profanando a aliança de nossos pais?

V.11 - Judá tem sido desleal, e abominação se tem cometido em Israel e em

           Jerusalém; porque Judá profanou o santuário do SENHOR, o qual ele ama, e

           se casou com adoradora de deus estranho.

V.12 - O SENHOR eliminará das tendas de Jacó o homem que fizer tal, seja quem

           for, e o que apresenta ofertas ao SENHOR dos Exércitos.

V.13 - Ainda fazeis isto: cobris o altar do SENHOR de lágrimas, de choro e de

           gemidos, de sorte que ele já não olha para a oferta, nem a aceita com prazer

           da vossa mão.

V.14 - E perguntais: Por quê? Porque o SENHOR foi testemunha da aliança entre ti e

           a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua

           companheira e a mulher da tua aliança.

V.15 - Não fez o SENHOR um, mesmo que havendo nele um pouco de espírito? E por

           que somente um? Ele buscava a descendência que prometera. Portanto,

           cuidai de vós mesmos, e ninguém seja infiel para com a mulher da sua

           mocidade.

V.16 - Porque o SENHOR, Deus de Israel, diz que odeia o repúdio e também aquele

           que cobre de violência as suas vestes, diz o SENHOR dos Exércitos; portanto,

           cuidai de vós mesmos e não sejais infiéis.

 

 

         A INFEDELIDADE CONJUGAL E A ALIANÇA COM OS ANCESTRAIS

 

Embora este parágrafo não esteja em conexão direta com o parágrafo anterior (2:1-9), não se pode negar que sua colocação no contexto das profecias de Malaquias seja oportuna e muito bem fundamentada no espírito da Lei e da Aliança e da história com os antepassados. Isto se percebe analisando o que diz a História, a Lei, os profetas e as circunstâncias do tempo de Malaquias (cf Neemias 13:29).

Exemplos históricos: Gênesis 16:1-6; 26:34; 27:46; Juízes 14:1-3.

Exortações da Lei e exemplos de desobediência: Êxodo 34:15-16; Deuteronômio 7:3-4; 17:16-17; I Reis 11:1-8.

Circunstâncias do tempo de Malaquias: Esdras 10, ênfase V.18; Neemias 10:30; 13:23-29, ênfase no V.29.

 

Comentários dos Vs.10 até 16.

 

A autoridade do profeta para repreender a deslealdade do povo, profanando o Santuário do Senhor está fundamentada na solidariedade devida de uns para com os outros, e na fidelidade devida a Deus e à aliança com os pais, por serem todos filhos de um só Deus, que merece honra e respeito como Pai e Senhor, conforme o oráculo pronunciado em 1:6. O problema gira em torno de casamentos mistos entre judeus e mulheres gentias, adoradoras de outros deuses.

O pai referido nesta passagem não é o Deus Criador do homem, nem Adão, o pai da humanidade, e nem Abraão, o patriarca de Israel (Gênesis 2:2). É o Deus Jeová que se chama a Si mesmo de Pai da nação de Israel em 1:6, e que fez de Israel o Seu povo (Êxodo 19:5-6). Como descendentes comuns de um só pai, eles deviam permanecer uma família unida, solidária e leal entre si como irmãos, e também a Deus, diferenciando-se dos gentios.

Diante disso, toda violação da relação fraternal que implicasse em culpa de casamento com uma mulher gentia, ou em repudiar uma mulher israelita, era também uma ofensa a Deus e uma profanação da Sua Aliança. Esta conduta específica dos judeus é considerada nos Vs.11-16, como profanação da Aliança feita com os pais em Êxodo 24:8, quando Deus, em Sua tolerância, adotou-os entre os gentios para serem o Seu povo (Êxodo 34:15-16; Deuteronômio 7:3-4).

O V.11 refere-se à atitude traiçoeira cometida por Judá ao divorciar-se de suas esposas judias e casar-se com adoradoras de deuses estranhos, prática extensiva a todo Israel, inclusive Jerusalém, onde estavam os repatriados do cativeiro da Babilônia, povo santo que Ele amou (1:2), e no V.12 o profeta acrescenta que Deus poderá eliminar da casa de Jacó (descendência de Israel) todo homem que proceder dessa maneira, de modo que não haverá quem possa sacrificar ao Senhor do Exércitos.

O V.13, usando a expressão “ainda fazeis isso” refere-se à reincidência nesse tipo de pecado. As lágrimas de choro e de gemido referem-se ao lamento das esposas repudiadas, queixando-se diante do altar de Deus que não pode aceitar as ofertas das mãos daqueles pecadores. A partir do V.13 o profeta condena mais essa transgressão moral do povo, a saber, o repúdio de suas verdadeiras esposas, como que fossem inconscientes do que estavam fazendo. E ainda perguntam: “Por quê? ” (V.14). A resposta está nesse versículo (cf Isaías 54:6; cp Mateus 19:5-6; I Coríntios 7:10-11).

O princípio é que, no contexto entre o Deus revelado como Verdadeiro e os falsos deuses, a deslealdade de um filho do Deus Verdadeiro contra outro filho, é deslealdade contra o próprio Deus. Isto é visível no compromisso moral-espiritual assumido entre Jacó e Labão diante de Deus (Gênesis 31:49-50). A leviandade de Cão trouxe-lhe maldição (Gênesis 9:20-21).

No V.15 o profeta não está considerando o consenso entre Abraão, Sara e Hagar, como justificativa para encobrir o erro precipitado de Sara, pois a promessa do descendente já havia sido feita (cf Gênesis 15:1-6; 20:6-7). A correção do Senhor pode ser vista ainda hoje, quando os descendentes de Ismael são como um jumento selvagem (os Islamitas) no meio dos seus irmãos judeus, e também de cristãos, lutando contra tudo e contra todos (cf Gênesis 16:10-12).

Se Abraão tivesse tido um pouco de bom senso, ele teria rejeitado a sugestão de Sara. O apelo do profeta é para que o povo cuide de si mesmo e não seja infiel com a mulher da sua mocidade, porque o Senhor Deus de Israel odeia o repúdio e aquele que cobre de violência as suas próprias vestes. A repreensão final é reforçada com a exortação para “cuidarem de si mesmos e não serem infiéis”.  

 

       

                       A VINDA DO SENHOR PRECEDIDA PELO SEU ANJO

                                                                  (2:17-4:6)

 

V.17 - Tendes enfadado ao Senhor com vossas palavras; e ainda dizeis: Em que o

            havemos enfadado? Nisto que dizeis: Qualquer que faz o mal passa por bom

            aos olhos do Senhor, e desses é que ele se agrada; ou: Onde está o Deus do

            juízo?

 

Este versículo é uma severa repreensão ao povo e uma transição para os Vs.3:1 e seguintes. O Senhor estava cansado daquelas afirmações segundo as quais Ele, Deus Jeová, não se importava com pessoas que agiam mal diante de Seus olhos, achando que Ele se agradava de pessoas assim. A maior perversão mental humana é exatamente imaginar que Deus se compactua com o mal e protege os malfeitores. Daí, a pergunta cética: “Onde está o Deus de Justiça? ”

A resposta vem logo em seguida, nos Vs.3:1bss, até o final do capítulo 4.

 

            

                                CAPÍTULOS 3 E 4 – NOTAS EXPLICATIVAS

 

1 - As pessoas introduzidas como interlocutores no V.17 não são os israelitas piedosos que eram oprimidos pelo peso da sua aflição e também sentiam-se indignadas pela prosperidade de seus ímpios compatriotas e eram, assim, tentados a dar expressão às queixas desesperadoras e às dúvidas sobre a justiça de Deus. Nem mesmo era uma classe intermediária entre os verdadeiros piedosos e os totalmente incrédulos, compreendendo os que criam que Ele repentinamente virá a Seu Templo, e antes da Sua vinda, Ele enviará o Seu Mensageiro para preparar o caminho para Ele. Os Vs.3:1-5 falam literalmente de João Batista e de seu ministério preparatório para o ministério de Jesus (Mateus 17:12-13; cf Mateus 3:1-10; Lucas 3:4-14; João1:23).

O melhor comentário para todo este trecho desde 3:1 até o final do capítulo 4 é a tradução da “Bíblia Judaica Completa” da Editora Vida, que corresponde ao capítulo 3:1-24 desta versão, e inclui os nossos capítulos 3 e 4.

Aconselhamos a leitura cuidadosa dessa versão ou a consulta pelo site: “www.editoravida.com.br” para completar o conhecimento deste precioso Livro de Malaquias. Este Livro, além de constituir uma ponte entre o Velho e o Novo Testamento, tem o mesmo alcance escatológico dos Livros de Ageu e Zacarias, atingindo a implantação do Reino Messiânico (Obadias 15-21; cf Salmo 2:8; Isaías 61-10). 

 

2 – Uma evidência a mais da falha de Israel de responder ao amor de Deus é apontada por Malaquias na presença, no meio do povo, daqueles que perderam a fé em Deus. Esta perda é apontada pela sua negação da justiça de Deus e pela dúvida da Sua vinda para julgar e para fazer discriminação entre os bons e os maus. Em resposta a esta incredulidade, o profeta declarou que Deus enviará o Seu Mensageiro para preparar a vinda do dia do julgamento, quando os sacerdotes (Levi) serão purificados e os pecadores de toda espécie serão revelados e condenados (3:5-6). Assim como os sacerdotes e o povo estavam cansados de servir ao Senhor (1:13), agora o Senhor estava cansado das suas palavras repetidas costumeiramente (1:2, 6ss; 3:8-9, 13-14).

 

3 - O trecho 3:1b até 4:3 fala da vinda do Mensageiro para julgamento. O trecho 3:7-9 fala da maldição da ocultação dos dízimos, e o V.10 fala das bênçãos celestes do arrependimento e da entrega dos mesmos, para toda a nação. Os dízimos eram destinados à manutenção dos levitas, a classe sacerdotal que servia no Tabernáculo e no Templo. Eles não haviam tomado parte na repartição da Terra, porque ficaram responsáveis exclusivos pelos serviços no Tabernáculo (Números 1:47-54; 5:8-26; Deuteronômio 18:1-2; cf Números 18:20).

 

4 – Os Vs.13-15 do capítulo 3 mostram palavras duras dos perversos que não serviam ao Senhor e não se apraziam de guardar os Seus mandamentos, em contraste com os Vs.16-18 que falam que o Senhor não se esquece daqueles que O temem e se lembram do Seu nome, porque Ele fará diferença entre o justo e o perverso, e o que serve a Deus e o que não O serve.

 5 – Do trecho 4:1-6 temos a visão do Juízo de Deus, nos seguintes oráculos:

 V.1 – Extermínio total dos soberbos e dos perversos.

V.2 – A felicidade dos que temem o nome do Senhor, pela Sua salvação.

V.3 – A exaltação dos justos sobre os perversos.

V.4 – Exortação a guardar a Lei de Moisés dada em Horebe, até a vinda do Precursor

        do Messias.

 V.5-6: Promessa do envio de Elias (João Batista), como precursor do Messias, para

          Preparar o povo para receber o Ministério do Messias e Suas bênçãos em

          Lugar de maldição.